“Tenho de ir…”

“Tenho de ir…”, disse-te, mas tu notaste as reticências na minha voz, as dúvidas no meu olhar. O tempo escasseava, chegava a hora de partir e, no entanto, esperava que me impedisses de sair por aquela porta, acreditava que, no último segundo, dissesses “Fica”.
Continuei a olhar para ti, não conseguia deixar de olhar para ti, para esses olhos em que me perdi tantas vezes, em que tantas vezes me encontrei. Fiquei presa àquele momento do tudo ou nada, do agora ou nunca, da esperança ou da desilusão, à espera de um gesto teu, de uma palavra. Bastava uma palavra tua e eu ficava, era tudo o que queria. Fiquei a olhar para ti, o tempo a fugir-me por entre os dedos e a dizer-me “Vai, já não há nada para ti aqui”.
Passaram tantos dias depois de fechar aquela porta, aquele doloroso muro que nos separou. Ainda continuo a ver-te, de olhos fixados em mim, sem coragem para suplicares “Fica, esta é a tua casa.”

Créditos da imagem: Helena Simão

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