E depois do nada?

Podia contar pelos dedos das suas mãos as oportunidades desperdiçadas, os desencontros, os equívocos. Mas ele ainda guardava no bolso a esperança de quase toda a sua vida, uma pequena concha branca e amarela que ambos encontraram na praia, quando eram adolescentes. 
Sempre que olhava para essa concha tão perfeita, lembrava-se do sorriso inocente dela, dos seus olhos a brilharem de contentamento, dos seus cabelos compridos a taparem parte do seu rosto. E, agora, tantos anos depois, eram dois adultos separados por tantas tentativas falhadas, tantas interrupções de um destino que parecia não os querer juntar. 
Decidiu oferecer-lhe a concha e retirar do bolso o segredo que os seus olhos já não conseguiam esconder. Mas a vida tornara-a uma pessoa demasiado amarga para aceitar tamanho presente. E foi nesse momento que o seu coração esvaziou toda a esperança. Guardara religiosamente uma mão cheia de nada. E depois do vazio? E depois do nada? Resta-lhe seguir em frente e encontrar outra concha que valha a pena guardar.

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