Longe das multidões, perto da natureza e em plena simbiose com os múltiplos tons de azul e verde. Coron Island, um pequeno grupo de ilhas formado por Coron, Uson, Apo, Bulacao e Cabilauan, integra a província de Palawan, no sudoeste das Filipinas. É um lugar com uma energia única que deslumbra a cada passo, que nos deixa sem fôlego a cada olhar, que nos cativa a cada instante, que nos deixa saudade para sempre.
Com paisagens de cortar a respiração, que parecem telas pintadas por mãos invisíveis, Coron é um paraíso dentro e fora de água. Por aqui, encontramos facilmente, e em locais com pouca profundidade, recifes de coral de cores vibrantes, vivos e intactos, que são a morada dos peixes coloridos que conhecemos dos filmes de animação, como o “Nemo” e a “Dory”. “Uma obra de arte intocada” foi como classificou a região o conhecido explorador francês Jacques Cousteau.
A região, banhada pelos mares Sulu e do Sul da China, é também conhecida pelas dezenas de navios japoneses que naufragaram nestas águas durante a II Guerra Mundial. Mas são os seus lagos e as suas praias que nos deixam sem adjetivos. Se a felicidade existe, está aqui, por toda a parte.
“Boracay is nice but Coron is paradise!”, disse-me Erwin, um dos guias que me deu a conhecer os lagos mais bonitos que alguma vez vi. Ainda que o diga para convencer os turistas que transporta no seu barco, a verdade é que as suas palavras não poderiam estar mais em sintonia com o que senti, depois de conhecer ambos os lugares.
Apesar de Boracay (onde me encontrava) não ser muito longe de Coron, a viagem é demorada, uma vez que as escalas levam-nos sempre a Manila. Desta vez, optei pela companhia Philippine Airlines. Depois de um voo de cerca de 45 minutos a partir da capital, cheguei ao aeroporto de Busuanga, provavelmente um dos mais pequenos do mundo. Dali ao porto, demorei cerca de uma hora por uma estrada com pouco trânsito, contrastando com o caos de Boracay. A paisagem bucólica desta ilha cativou-me de imediato e ainda não tinha chegado ao destino, o Balinsasayaw Resort, um hotel ecológico na ilha vizinha de Uson, ao qual se acede apenas por barco.
Foi na praia do hotel que me cruzei com pequenas “Dorys”, uns peixes azuis conhecidos por cirurgião patela, que rodopiavam em torno de um pequeno coral, mesmo junto aos meus pés. Não foi preciso afastar-me da costa para ficar encantada com os tesouros escondidos sob a água. Por aqui, também encontrei várias estrelas-do-mar e, em águas mais profundas, ostras gigantes, o maior molusco bivalve existente e uma espécie ameaçada, já que a sua concha é considerada um artigo de luxo na China e noutros locais.
A natureza foi bastante generosa nesta região, pelo que as excursões são obrigatórias para quem pretende descobrir Coron, a ilha verde com formações rochosas curiosas, que eu observava da minha varanda assim que o sol nascia. A primeira viagem levou-me a conhecer os lagos encantados. Siete Pecados é a primeira paragem para sentir a água morna no corpo e nadar junto de inúmeros peixes coloridos que se movimentam alegremente, indiferentes à presença de alguns barcos de turistas. O nome deste lugar revela a influência espanhola de cerca de 300 anos que ainda perdura nos dias de hoje.
Kayangan Lake é um dos locais mais incríveis que já visitei. Apesar de já ter muitos turistas, é, ainda assim, um lugar deslumbrante. A cor da água é de um verde intenso, muito límpida. Temos de subir cerca de 150 degraus para perceber a imponência da Baía de Coron e, de seguida, voltar a descer para que os nossos olhos consigam assimilar tamanha beleza.
Depois deste espetáculo natural e de um almoço tranquilo numa barraca de madeira a proteger-nos do calor do Verão filipino, que vai de Março a Maio, seguimos para o silencioso Barracuda Lake, protegido por penhascos enormes com cerca de 40 metros de profundidade. Diz a lenda que uma barracuda de dois metros de comprimento vive nestas águas, que têm a particularidade de serem doces e salgadas, como se formassem camadas de temperaturas diferentes. Sem ninguém à hora que o visitámos – éramos apenas 11 pessoas, já com os guias – pude admirar a paz que brota daquele lugar, absolutamente apaziguadora. Para mim, é o lago mais bonito do mundo.
Ultrapassadas todas as expetativas, sem imaginar que existiam locais assim, seguimos para o Twin Lake, dois lagos separados por uma gruta que é possível atravessar quando a maré está baixa. Existem vários lagos nesta região, alguns dos quais menos divulgados, que só os pescadores conhecem.
O dia termina com uma visita a um dos barcos naufragados, o Skeleton Wreck, habitado por centenas de peixes, que aguardam também pelos restos de carne que sobrou do almoço. Os guias atiram-no à água para que possamos assistir a esta dança de cor e movimento debaixo de água. Antes, fizemos uma pequena paragem na praia de Banul, banhada por um mar tranquilo e com uma cor azul fantástica.
Depois de maravilhada com os locais que conheci nesta primeira excursão, pensava que a segunda viagem, desta vez, pelas praias, não poderia ser tão boa como a dos lagos. Mas foi, só que com paisagens diferentes. A natureza tem esta capacidade de nos surpreender e de nos deixar sem palavras. Porque não há palavras que possam descrever o que os nossos sentidos experienciam num local tão inacessível quanto extraordinário, como Bulog II Island ou a praia da ilha de Malcapuya.
Depois de um percurso de cerca de uma hora de barco, chegamos a uma pequena ilha, a Bulog II. Com águas claras e mornas, apetece passar o tempo todo dentro de água, mas vale a pena subir alguns degraus para apreciar a paisagem que se vislumbra do ponto mais alto da ilha. Já dentro de água, sou presenteada com três pequenos peixes palhaço, os conhecidos “Nemos”, que brincam ao sabor da leve ondulação junto à sua casa, uma anémona-do-mar. A poucos metros da praia, eis que o fundo do mar se revela: virgem e cheio de vida.
Voltei a cruzar-me com estes peixes na paragem seguinte: a ilha Banana, mais um paraíso recôndito e protegido de multidões. E o melhor estava guardado para o fim. A ilha Malcapuya é um pequeno pedaço de terra abençoado pela natureza. Com uma praia de areia clara e algumas rochas, palmeiras, que nos protegem do sol, e um mar tranquilo e límpido, este lugar enche-nos a alma e emociona-nos. Tudo está como devia estar, tudo é como devia ser.
Créditos da imagem: Helena Simão
Este texto integra a rubrica “Viajar” do portal SAPO Viagens.
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