Tantas vezes

Tantas vezes lhe dizia que estava tudo bem entre eles que ela quase se convencia que o problema estava nela. Era ela que via dúvidas nas certezas que ele proferia. Era ela que sentia alguma indecisão nas decisões dele. Era ela que não acreditava nas palavras de confiança que ele lhe transmitia. Como se ele não quisesse dizer o que estava a dizer. Mas sem o saber.
Tantas vezes ouvia o que queria ouvir só para se iludir mais um pouco, só para prolongar ainda mais aquela ilusão de que tudo estava bem entre eles. Mas não estava. O coração tentara avisá-la tantas vezes!
Por mais que não quisesse sentir, à medida que o tempo passava, aumentava aquele aperto no peito, como se o coração já não coubesse no lugar onde sempre estivera. Era altura de crescer, de mudar, de seguir outro caminho, de mudar de página. Ele não estava a saber enfrentar o seu destino, estava à beira da mudança e adiava-a por temer o desconhecido.
Com ele, aprendeu que as palavras só têm realmente significado quando se sente cada letra, cada vírgula, cada pausa, cada ponto final. Com ele, aprendeu a ver a mudança como uma oportunidade e não como um prenúncio de solidão. Com ele, aprendeu que um final é, afinal, o início do que nós quisermos.