A ilha de Menorca, a segunda maior das Baleares, é como aqueles presentes que vamos desembrulhando devagar: quanto mais abrimos, mais queremos ver e mais nos deslumbramos. Os seus 256 quilómetros de costa, envoltos por um magnífico Mar Mediterrâneo, estão repletos de lugares paradisíacos, desde praias com cenários idílicos, com tons que parecem demasiado belos para serem reais, a paisagens verdejantes que convidam a estar, com calma, passando por arribas de paisagens despidas de arvoredo, mas cheias de segredos.
Há de tudo neste lugar abençoado pela natureza. Mas são as calas, as famosas enseadas protegidas por rochedos, que invadem o mar, e por uma vegetação, em alguns casos, densa e bucólica, que tornam esta ilha encantadora. Apesar de pequena, em comparação com Maiorca, a vizinha ilha amplamente conhecida – daí o seu nome, que provém de Minorica – há muito para ver, fazer e conhecer. O mais simples será alugar um carro. Existem muitas empresas à disposição dos turistas no aeroporto ou junto dos principais hotéis.
As calas são cerca de 100, para quem tiver tempo e energia para andar a pé, de bicicleta ou a cavalo. Isto porque, apesar de existir uma estrutura de apoio às praias bastante bem conseguida, as mais bonitas e também as mais selvagens e naturais, ficam longe dos parques de estacionamento. E ainda bem! Podemos dizer que a dificuldade aguça a curiosidade e, neste caso, o esforço vale bem a pena. Não existe uma estrada marginal que possamos percorrer de carro, o que nos obriga a voltar, muitas vezes, à estrada principal que atravessa a ilha e liga as duas cidades principais: Maó, a capital atual, e Ciutadella, a antiga.
A boa notícia para os amantes da natureza é a existência do Camí de Cavalls, um trilho com cerca de 200 quilómetros, que antigamente unia as torres de vigia existentes na ilha para garantir a vigilância. É este caminho que nos dá acesso aos recantos mais espetaculares e surpreendentes de Menorca. E, se no sul, descobrimos praias com areia branca e a água em tons de verde ou azul turquesa, dependendo da luz do sol, no norte, encontramos areais de cor mais escura e rochedos avermelhados. O difícil é eleger a praia mais bela.
As Calas Macarella e Macarelleta foram as que mais me surpreenderam. Saí do hotel debaixo de chuva. O céu estava negro e a temperatura baixara significativamente. A meio de setembro, o Verão, tal como em Portugal, despede-se de nós e vai para outras paragens – daí ser aconselhável conhecer a ilha entre junho e o início de setembro. Depois de quase uma hora a conduzir, cheguei ao parque de estacionamento da praia Macarella. O frio e a chuva tinham afugentado quase todos os turistas. Uma tabuleta indica que a praia fica a cerca de 15 minutos dali.
A chuva deu, finalmente, tréguas e alento à caminhada silenciosa pelo meio do arvoredo, só interrompida pelo chilrear dos pássaros. Até que se começa a ouvir o som das pequenas ondas a chegar ao areal. Uma descida mais acentuada, uns degraus de madeira e, dali a pouco, a surpresa: uma encantadora baía de águas límpidas e tranquilas. Parece um segredo nosso, pelo menos, por alguns momentos. O convite para um mergulho não precisa de ser pronunciado. É inevitável entrar por ali, mar dentro, e deixarmo-nos envolver por aquela temperatura, tão apelativa quanto aconchegante.
Mas o presente da natureza ainda não tinha terminado. Começo a subir pelo rochedo oposto para recolher uma imagem ampla daquele lugar e percebo que há um caminho desenhado nas rochas. Alguns minutos depois, deparo-me com outra praia, mais pequena, mas ainda mais deliciosa e misteriosa: a Macarelleta. Sem chuva e com alguns raios de sol a mostrarem a sua graça, absorvo as boas energias daquele lugar, durante algumas horas.
Com outras calas na lista para conhecer, temos de voltar ao caminho e partir para outro destino. Na costa sul, vale mesmo a pena visitar Cala Es Talaier, Cala Turqueta, Cala Mitjana, Son Xoriguer, Son Saura, Cala Santandria, Cala Blanca e Cala Galdana, esta mais conhecida, logo, mais procurada pelos turistas e com hotéis e restaurantes mesmo em cima do areal.
A norte, Cala Pregonda é um lugar com uma energia mística. Para lá chegar, é preciso deixar o carro na praia Biminel-là e caminhar a pé, durante cerca de meia hora, por um cenário quase árido, mas muito bonito e intrigante. Os rochedos que protegem aquela praia das ondas tornam-na um apetecível pedaço de paraíso. Cala Morell, com um pequeno areal, apresenta-se como uma piscina natural, com vários acessos à água, por escadas, e tem umas cores fantásticas. É outro lugar que deve ser incluído no roteiro. Tal como Cavalleria, Arenal d’en Castell e o Parque Natural Albufera d’Es Grau, uma das zonas húmidas mais importantes do sul da Europa, com vista para a ilha d’en Colom.
No prato, há também boas descobertas para fazer. Além das famosas paellas espanholas, em Menorca, o peixe é o protagonista das ementas. A caldeirada de lagosta é o prato mais famoso da localidade de Fornells, situada a norte, iguaria que todos os anos o antigo rei Juan Carlos faz questão de degustar. Vale a pena perder-se pelas ruelas cheias de restaurantes e animação e experimentar esta ou outra receita apaladada.
Para terminar o dia ou a viagem, nada melhor do que conhecer um local especial: Cova d’en Xoroi, em Cala en Porter, no sul. Este bar, muito procurado por locais e turistas, é considerado um dos mais espetaculares dos mundo para ver o pôr do sol. Com grutas escavadas numa imensa falésia, qual janela para o infinito, a Cova d’en Xoroi tem uma envolvência e uma energia únicas que nos vão deixar com um brilho nos olhos e vontade de brindar à vida.
Créditos da imagem: Helena Simão
Este texto integra a rubrica “Viajar” do portal SAPO Viagens.
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