Podia ter sido

Podias ter sido o meu abrigo, o meu farol, a minha lua cheia, a minha estrela. Podias ter sido a flor mais bela do meu jardim, o meu pilar, o meu horizonte, o meu mar. Podia ter sido poderoso e, ao mesmo tempo, tão simples. Bastava que tu e eu falássemos a mesma língua, quiséssemos ir para o mesmo sítio, dançássemos ao mesmo ritmo.
Mas as palavras, quando mais precisávamos delas, não souberam dizer o que o coração desejava gritar aos quatro ventos. As mãos, as nossas mãos, que quase nunca se largavam, ficaram perdidas e sem rumo, naquele dia, naquele fatídico dia. Os olhos, os nossos olhares que sabiam sempre o que o outro queria dizer, separaram-se na bruma da escuridão.
Deixámos de ser um para passarmos a ser simplesmente dois, dois corpos inquietos e nervosos, que perderam a coragem para se ligarem novamente, que perderam o rumo para se juntarem outra vez. Podia ter sido alegria em vez de angústia, felicidade em vez de lágrimas, sol em vez de chuva. Podias ter sido o sim em vez do fim.

Créditos da imagem: Nathalie Aguiar

Arquivo

Blogs Portugal

Seja o primeiro a comentar

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *