Intervalo da vida

Neste intervalo da vida em que me encontro, lembro-te. Tudo me faz voar para esse tempo distante em que, contigo, fui vida, fui paixão, fui liberdade. Nada me quer ajudar a esquecer o que fui até que a vida, essa vida que eu era contigo, fosse abruptamente interrompida. E eu, desorientada neste silêncio estúpido, neste vazio que me quer sugar o pouco de vida que ainda me resta, o pouco de vida que é memória e pouco mais a percorrer o meu corpo, procuro apenas um sinal teu.
Presa a um fio de vida que ainda me faz viver, aguardo. Olho para um passado que era nosso e tento vislumbrar um futuro onde haja tempo para nós outra vez, desta vez sem interrupções, sem despedidas. Neste intervalo da vida em que respiro, ainda procuro acalmar as dores do corpo porque as da alma serenaram há muito. Há algo que nos une neste afastamento que é apenas físico, nesta separação que é apenas ilusória.
Não estás nos meus braços como tantas vezes estiveste, mas estás no meu coração. Não tens o meu beijo a aquecer os teus lábios, mas tens o meu amor a inundar-te de luz. Somos lua cheia mesmo quando olhamos para o céu e nada vemos. Lembro-te. Até que o intervalo acabe e a vida volte.