A história da Quinta dos Machados, situada em Mafra, está repleta de momentos de trabalho e empreendedorismo, de episódios de guerra e paz e de promessas de amor. São quatro séculos de história, várias famílias e gerações que souberam desfrutar e tirar o melhor de uma propriedade com cerca de 15 hectares, às portas de Lisboa. São vidas inteiras à procura de um espaço mágico em plena sintonia com a natureza.
É preciso tempo para nos deixarmos levar pela hospitalidade e simplicidade deste hotel “Countryhouse, Spa e Eventos”. O espaço é imenso e há inúmeros recantos, vários locais para visitar, conhecer e ficar. Tudo ali é pensado ao mais ínfimo pormenor, mas a simpatia e a informalidade com que somos recebidos faz-nos pensar que foi o acaso que deu àquela quinta o melhor de si.
Nesta harmoniosa casa de campo cabem eventos, como casamentos ou congressos e conferências, jantares empresariais, tratamentos e momentos relaxantes no Spa, mergulhos na piscina, caminhadas e provas ao ar livre no bosque e percursos para ciclistas. Este é, aliás, um “bike hotel”. Motivos não faltam para ali pernoitar ou talvez não precisemos de nenhum para querer desfrutar de uma experiência neste espaço.
Dividida em duas zonas distintas, a ala Relax e a ala Tradição, a Quinta dos Machados sabe conciliar o melhor dos dois mundos: quem procura um lugar para um grande evento e quem quer apenas desfrutar de um pouco de tranquilidade longe da confusão citadina.
É na ala Tradição que encontramos o edifício principal, considerado património histórico. A traça mantém-se fiel à construção antiga, que foi moradia da família Camarate que, em 1633, soube perceber o valor deste pedaço de terra e ali criou um dos primeiros entrepostos comerciais saloios. A ribeira de Pedrulhos, que circunda a propriedade, servia para transportar produtos agrícolas para a região de Lisboa. Convertido em dois apartamentos, o edifício, pintado de branco e amarelo, tinha ainda um lagar de azeite, transformado atualmente em sala de hóspedes.
E é aqui, perto de um antigo poço, que encontramos o grande salão que acolhe os banquetes de casamento. Tem uma capacidade para 300 pessoas e uma decoração que equilibra pedaços do passado com o conforto contemporâneo. Duas salas contíguas mais pequenas servem de apoio à sala principal e há uma zona exterior para a receção dos convidados.
Os Machados, que deram o nome à quinta, mudaram-se para esta propriedade depois do terramoto de 1755, que destruiu grande parte dos edifícios da capital. Ali residiram três gerações desta família e, quando o espaço mudou de mãos, para os atuais proprietários, a única exigência foi que se mantivesse a roseira bela portuguesa, um dos poucos exemplares que ainda encontramos no nosso país e que dá flor durante quase todo o ano. Terá sido ali que a mãe da antiga proprietária foi pedida em casamento. O local está devidamente assinalado e cuidado e é regra da casa que todos os noivos que ali pernoitam fiquem no quarto com vista para a roseira.
Foi há cerca de uma década que Miguel Almeida e Carmo Tenreiro descobriram esta quinta num passeio pela zona Oeste. Apaixonaram-se pela propriedade e perceberam o seu imenso potencial. A eles se deve a construção da Ala Relax, que inclui 12 quartos, seis deluxe e seis premium. Com uma decoração marcada pelas linhas vintage e contemporânea, cada quarto é diferente e tem um nome, que pode estar associado à localização ou a estados de alma. Carmo Tenreiro é a responsável pela decoração da quinta e também a coordenadora de eventos.
Um dos quartos, por exemplo, chama-se Vitória em homenagem à vitória nacional perante os invasores franceses, no início do século XIX. Mais uma vez, esta quinta fez parte da história, servindo de quartel-general dos ingleses.
Fiquei no quarto Alma Portuguesa, um recanto tranquilo e acolhedor que me fez sentir imediatamente em casa. A decoração sóbria é enriquecida com apontamentos de tons mais fortes e pequenos gestos coloridos, como o convite para registarmos os nossos sonhos numa folha em branco. O silêncio do campo apenas é interrompido pelos sons da natureza. Sim, estamos perto de Lisboa, mas longe o suficiente para deixar qualquer tensão e stress para trás.
E se a calma da quinta não for suficiente, vale a pena perdermo-nos no Spa. Além da zona de relaxamento, que inclui sauna, banho turco e jacuzzi, existe também uma zona de massagens e tratamentos. As sugestões são imensas, mas os destaques vão para os rituais exclusivos: o Bela Portuguesa e o da Quinta.
Experimentei a massagem de pindas, um ritual relaxante e envolvente, que recorre às mãos da terapeuta e às pindas de ervas aromáticas medicinais. Durante uma hora, o meu corpo experimentou inúmeras sensações de paz e tranquilidade. As pindas aquecidas são usadas para suavizar tensões, acalmar o espírito e revigorar o corpo. Os óleos essenciais usados ajudam a potenciar o efeito calmante deste ritual.
“Cantinho dos Sabores”
Depois de saciar a mente, é hora de alimentar o corpo, até porque falta referir outro protagonista desta história: o “Cantinho dos Sabores”, restaurante da quinta, que está aberto diariamente. A cozinha é regional, de sabores típicos portugueses com um toque de modernidade. Foi o chef Amorim quem redesenhou a carta, pelo que vale a pena perdermo-nos de amores por este espaço, com capacidade para 50 pessoas.
Para dar resposta à crescente procura de empresas para jantares de aniversário ou de Natal, o jardim de inverno (a segunda sala do restaurante) foi acrescentado e nele podem sentar-se 45 pessoas. Totalmente envidraçado, é um prolongamento da natureza ou, se quisermos, um prolongamento da nossa imaginação para onde o arvoredo nos deixa ir. O cenário completa-se com o jardim de alfazemas, que dão nome e sabor aos biscoitos caseiros que acompanham perfeitamente com um chá a meio da tarde ou no final do pequeno-almoço.
As chamuças de queijo de cabra, alho francês e avelã são perfeitas para iniciar a refeição. A combinação de sabores que se fundem na boca dá vontade de querer conhecer mais, provar mais, experimentar mais. Já conquistada pelos sabores intensos e pela ousadia, sigo para o prato principal. Arrisco e opto pelas bochechas de porco com puré de castanha e grelos, um prato de sabores intensos e ideal para degustar nesta época do ano. Apesar de não ser apreciadora de carne de porco, fiquei rendida à qualidade da carne e à forma como estava cozinhada. No ponto, tal como os restantes sabores da castanha e dos grelos, em verdadeiro equilíbrio.
No final, provei o leite creme de tangerina, um verdadeiro hino à tangerina, uma das minhas frutas preferidas desta época.
Antes da despedida, é obrigatório passear pelo bosque, onde antigamente passava o caminho do Palácio Real de Mafra. Entre pinheiros, sobreiros e ciprestes, encontramos baloiços e bancos. Outras surpresas estão a ser preparadas. Para o próximo ano, os responsáveis estão a criar um parque sensorial para pôr à prova todos os sentidos. Mas há mais. Segundo Márcia Faleiro, assistente de Direção, em frente ao jardim de alfazemas, por cima da ribeira, vai ser criada uma zona de refeições intimistas. Ao lado, um antigo depósito de água vai dar lugar a uma sala de jantar para duas pessoas.
Os preços dos quartos começam a partir dos 80 euros, dependendo das datas e se inclui ou não pequeno-almoço.
Morada: Estrada Nacional 8, Barras, Mafra
Créditos das imagens: Helena Simão e Direitos Reservados
Este texto integra a rubrica “Ficar” do portal SAPO Viagens.
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