Esta é a prova de que os sonhos se concretizam. Há muitos anos que Maria José Vasconcelos queria abrir um café e foi depois de uma vida dedicada a trabalhar como assistente administrativa que tudo se conjugou para que as ideias se materializassem. Cristina, Madalena e Inês, as três filhas, deram o empurrão que faltava e juntaram-se por um projeto familiar, que é uma realidade desde novembro último, na zona de São Sebastião, em Lisboa. My Mother’s Daughters é muito mais do que um café, é um espaço com comida da mãe, pois claro, e da mãe-natureza.
Neste novo restaurante da cidade, o menu é “plant-based”, maioritariamente biológico e sazonal. Quer isto dizer que não há produtos de origem animal, antes, vegetais, grãos, frutos secos, sementes e frutas. Além disso, a cada três meses, de acordo com o ciclo das estações do ano, serão feitas alterações às receitas. Combater o desperdício é outra das intenções das responsáveis, que criaram uma entrada “desperdício-zero”, para aproveitar os ingredientes que sobraram do dia anterior.
Podemos ler na ementa que a intenção “é oferecer comida o mais fresca e natural possível, não animal, sem químicos e não processada para nutrir e curar o corpo, acalmar a mente e purificar a alma, respeitando a natureza”.
Com uma pequena esplanada, ideal para uma pausa nos dias de sol, o “My Mother’s Daughters é um local clean, com uma decoração virada para a reciclagem e para o que é artesanal. As cores suaves das paredes e do mobiliário contrastam com as cores fortes e revigorantes, que são servidas em forma de refeição e de bebida. Mas já lá vamos.
Apreciamos, primeiro, o ambiente confortável criado para nos receber. Nota-se que cada pormenor tem uma história, como o balcão e parte das paredes, que foram forrados com azulejos partidos, que iriam para o lixo. Ou as mesas e as cadeiras feitos com madeira proveniente de fontes sustentáveis, criados por uma empresa que usa técnicas originárias de uma pequena povoação da Bósnia. Ou ainda os candeeiros, quais balões de sonhos, criados de forma artesanal pelo artista português Martinho Pita, que trabalha com mestres vidreiros da Marinha Grande.
Intensifica-se a azáfama por trás do balcão e, em pouco tempo, as mesas enchem-se de curiosos/esfomeados. “Antes de tudo”, sugere o menu, devemos provar o elixir pré-refeição (2,5€), com gengibre, curcuma, limão e pimenta preta. “Para partilhar ou passar o tempo”, há, por exemplo, a tábua de queijo amarelo (8€), que acompanha com marmelada ou doce caseiro, o pão “des” queijo (3,5€), feito de “queijo” vegetal, e a tal entrada “desperdício-zero” (3,5€).
Como sugestão das “daughters”, temos a “Ohmm-let” (8,5€), uma omelete sem ovos, com recheio de cogumelos marinados em molho de soja, acompanhada de salada de verdes, e a tosta unicórnio (6€), pão caseiro com pasta de feijão branco tingida com chá azul e beterraba com sementes de abóbora tostadas, entre outras opções.
Nos pratos principais, o destaque vai para as bowls quentes (9€): a fresca, à base de verdes, e a da terra, à base de grãos; e, para a sugestão do dia, o prato especial da “mother”. Podem ser acompanhados pelo sumo do dia (3,5€) ou pelos sugestivos “lattes de bem-estar”, onde se destaca o matcha latte, o golden milk e o blue dream latte.
Para finalizar, e porque aqui as sobremesas não têm açúcares refinados ou ingredientes processados, podemos arriscar no bolo ou doce do dia (3,5€) ou experimentar algo mais sugestivo, como o pudim de chia preto com carvão ativado (5,5€), uma receita que está a fazer sucesso.
Não foi fácil escolher, porque a ementa é variada, mas resolvi começar por experimentar o golden milk ou leite dourado, em português, uma bebida que está a fazer furor um pouco por todo o mundo por prevenir inúmeras doenças e que é uma mistura de leite de coco e curcuma. Primeiro, estranha-se e, depois, ficamos viciados no sabor quente, picante e, acima de tudo, reconfortante.
Segui a sugestão da “mother” e experimentei a sopa do dia, com batata doce e abóbora. Muito saborosa e cremosa, num equilíbrio que parece fácil entre todos ingredientes. E, de seguida, experimentei o prato do dia. Ragu de banana é confecionado com casca de banana para reduzir o desperdício. Fiquei muito curiosa com o que viria para o prato, mas a verdade é que esta mistura improvável de puré de banana e da casca, cozinhada como se fosse carne, resulta muito bem. O doce fica perfeitamente enquadrado com o salgado e, além de saboroso, satisfaz, sem pesar.
O espaço está aberto de segunda a sexta, das 8.30 às 19 horas e, ao fim de semana, das 10 às 17 horas.
Créditos das imagens: Helena Simão e Direitos Reservados
Este texto integra a rubrica “Saborear” do portal SAPO Viagens.
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