Voltei a acreditar

Tinhas um brilho no olhar, a confiança estampada no rosto como se quisesses dizer que a vida é maravilhosa, que a vida tem a forma de um grande sorriso que não se consegue diluir. Eu, que estava habituada a olhar para cima, para os imensos obstáculos, enormes, gigantes aterradores que me impediam de ver a luz do sol, fiquei sem reação. Eu, que da vida apenas via as dificuldades, o lado sombrio das pessoas porque era esse e apenas esse que me mostravam ou, pelo menos, o que restava, no fim, não soube responder.
Não tinha deixado de acreditar no sorriso, naquele que o teu rosto não conseguia esconder, mas tinha deixado de o ver há muito. Não tinha deixado de acreditar na paz, na luz, mas não a conseguia alcançar há muito. Não tinha deixado de acreditar na vida, naquilo que ainda poderia receber, mas há muito que tudo o que dava caía num poço sem fundo.
A tua forma simples de ser mexeu comigo. Era como se fizesses tudo o que era esperado. Era como se acertasses sempre naquilo que o mundo precisava. Estavas em plena sintonia com o universo e eu não fazia a mínima ideia do que isso era. E, contra todas as expetativas, deste por mim, deste-me a mão e quiseste ajudar-me a voltar a pôr os pés no chão. Na verdade, o que fizeste foi muito mais do que isso. Os meus pés quiseram sair do chão, saltar, voar. Devolveste ao meu olhar o brilho que perdera, ao meu sorriso a fé que o abandonara. E voltei a acreditar.

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