Há postais ilustrados com paraísos longínquos que ficam guardados na memória para toda a vida. As paisagens da Malásia são excelentes para colocar os cinco sentidos à prova e para nos arrebatar. Porque há imagens, cheiros, sabores e sensações que ficam presos a nós para sempre. E ainda bem. É a prova de que as viagens vão muito para além do tempo que duram. Neste país do sudeste asiático, encontramos montanhas imponentes, vastas florestas tropicais, praias de cores vibrantes e intensas e um ambiente exótico apaixonante.
Situado pouco acima da linha do Equador, este território é influenciado por um clima quente e húmido, próximo dos 90%, durante todo o ano. As monções anuais atingem, sobretudo, a região sudoeste do país de abril a outubro e o nordeste, entre outubro e fevereiro. Quer isto dizer que chove praticamente durante todo o ano, embora os meses mais aconselhados para visitar a Malásia sejam entre junho e outubro. As temperaturas rondam os 30 graus quer seja de dia ou de noite e a humidade é tanta que a roupa se cola ao corpo mal saímos à rua.
Se para nós é um pouco difícil de suportar, o clima é, no entanto, propenso à existência de uma fauna e flora ricas em variedade e diversidade. Estima-se que o território da Malásia contenha 20% das espécies animais do planeta. Por exemplo, aqui encontramos 8000 espécies de plantas, 800 tipos de orquídeas, 600 tipos de aves, 250 espécies de répteis, 140 espécies de cobras e 80 espécies de lagartos.
Cerca de dois terços do país estão cobertos por florestas. Algumas existem há cerca de 130 milhões de anos. Estes recursos naturais têm ajudado o país a crescer economicamente. A Malásia é o maior produtor de estanho e de borracha do mundo e um dos principais produtores de óleo de palma.
Parti da capital, Kuala Lumpur, à descoberta desses magníficos postais coloridos pela natureza de que já tinha ouvido falar (leia também http://startingtoday.pt/index.php/2018/07/03/malasia-um-destino-repleto-de-contrastes/).
A Malásia tem 878 ilhas, umas mais acessíveis, outras mais distantes, umas mais turísticas, outras com poucas pessoas. O difícil é decidir quais visitar.
Situada na costa leste da Malásia Peninsular, Redang é uma ilha onde o contacto com a natureza é total. Envolvida pelas águas tépidas do Mar do Sul da China, que rondam os 30 graus, este pedaço de terra em forma de borboleta é um lugar mágico que nos cativa de imediato. O azul intenso e reluzente do mar calmo funde-se com os areais claros salpicados do verde das palmeiras e da vegetação abundante. Queremos absorver tudo em nosso redor porque parece demasiado belo para ser verdade.
Não fosse o tal calor e a tal humidade e o cenário seria perfeito. Ainda assim, nada que nos estrague a aventura e nada que não se resolva à sombra de um coqueiro ou até a beber uma deliciosa água de coco. Por isso, durante as horas de maior calor, a praia e o mar ficam sem ninguém, pois a água não refresca. De manhã e ao fim da tarde, a praia enche-se com turistas, sobretudo chineses que ouviram falar de Pulau Redang no filme “Summer Holiday”, lançado em 2000 e que foi rodado no hotel Laguna Redang Island Resort, precisamente onde fiquei instalada.
Para chegar à ilha, é preciso apanhar um ferry a partir do porto de Merang Jetty ou de Shahbandar Jetty (foi a minha opção). Antes disso, voei da capital até ao aeroporto mais próximo, o de Terengganu, pela companhia low cost Air Asia. O voo demora menos de uma hora e, de seguida, é só apanhar um táxi, uma viagem que demora cerca de 20 minutos, até ao porto. Também há autocarros que partem diariamente de Kuala Lumpur, mas a viagem demora cerca de seis horas. O percurso de barco demora cerca de uma hora e meia. Antes, temos de pagar uma taxa (cerca de 6,3€) para a conservação do Parque Marinho da Malásia, do qual Redang faz parte.
Mas a ilha é tudo o que imaginamos e mais ainda. Apesar de já ter muitos turistas que procuram as suas paisagens arrebatadoras, guarda ainda aquela aura de paz e de magia que tão bem nos faz ao corpo e ao espírito.
O snorkeling é uma das atividades preferidas dos turistas, que passam horas de costas voltadas para o sol e olhos postos dentro de água a apreciar a beleza dos corais e dos imensos peixes coloridos. E não é preciso avançarmos muito porque, com água pelos joelhos, já é possível ver peixes curiosos à nossa volta. Eles não se amedrontam com a presença das pessoas. Pelo contrário, estão habituados a serem alimentados e aproximam-se de imediato na tentativa de receberem o almoço. Tubarões bebés, peixes trombeta de vários tamanhos, peixes papagaio, peixes palhaço e até raias. Todos são presença assídua junto à praia.
Também tive a oportunidade de fazer uma excursão à Baía das Tartarugas na esperança de ver tartarugas marinhas. E não só consegui ver várias, como consegui estar na água com elas e até tocar-lhes. Há sete espécies de tartarugas marinhas e todas estão ameaçadas de extinção. Quase todas são migratórias, orientando-se com a ajuda do campo magnético terrestre.
Após atingirem a maturidade sexual, o que acontece depois dos 20 anos de idade, as fêmeas regressam à praia onde nasceram para enterrar os seus ovos na areia. Terminado o período de incubação que dura cerca de dois meses, as tartarugas bebés saem do ninho, escavam a saída e seguem até ao mar, mas os perigos são tantos em terra e no mar que apenas uma em cada mil sobrevive até à idade adulta.
Em Redang, é habitual ver-se quatro das sete espécies de tartarugas. Vê-las ali tão próximas como se estivessem numa dança de mergulhos e de passos exibicionistas foi inesquecível. É daquelas experiências que apenas se vivem uma vez na vida. Não tive a possibilidade de assistir ao nascimento de tartarugas, mas na ilha vizinha de Lang Tengah, visitei um centro de conservação de tartarugas, bem como os seus ninhos. Ainda em Redang, tentei agendar uma visita ao santuário Chagar Hutang Turtle, que fica situado no norte da ilha, mas as condições do mar agravaram-se nos últimos dias, o que impediu a viagem.
Lang Tengah foi a paragem seguinte. Esta é uma pequena ilha comprida e estreita, que fica localizada entre as conhecidas Perhentian e Redang. A distância desta não é superior a 30 minutos de barco, pelo que a viagem foi rápida e permitiu manter-me em pleno contacto com a natureza. É pelo snorkeling e pelo mergulho que muitos turistas procuram este pedaço de paraíso, mas os que apenas querem descansar encontram aqui paisagens deslumbrantes, cores magníficas e um silêncio mágico.
As águas são tão cristalinas e transparentes que conseguimos ver perfeitamente o que os nossos pés estão a pisar. E nem precisamos de colocar os olhos dentro de água para ver os peixes que passeiam tranquilamente junto à praia. Mas vale a pena aventurarmo-nos ilha adentro e conhecer as outras praias. Na ilha, não há estradas, apenas caminhos que atravessam a selva, que nos permitem ver de perto aranhas e lagartos, entre outros animais. É junto a uma dessas praias selvagens que se encontra o “Lang Tengah Turtle Watch”, um projeto de voluntariado que estuda e protege os ninhos de tartarugas. Investigadores oriundos de todo o mundo passam várias semanas em campo a monitorizar os ninhos e, quando as tartarugas nascem, tentam ajudá-las a chegar ao mar, evitando que sejam comidas por predadores.
Lang Tengah é uma ilha mais selvagem e tranquila e é o local ideal para caminhar à noite na praia e assistir ao fenómeno espetacular de ver ‘estrelas’ dentro de água. As ‘estrelas’ não são mais do que plâncton, pequenos organismos vivos que são arrastados pelas correntes e que se alojam nos corais. Quando tocamos no plâncton, este ilumina-se como se fosse um pirilampo. Ver a água iluminar-se na noite escura e, de seguida, observar o céu repleto de estrelas é algo incrível.
Horas antes, e para a despedida desta ilha, tinha sido brindada com um magnífico pôr-do-sol que me deixou sem fôlego e sem palavras.
Créditos das imagens: Helena Simão
Este texto integra a rubrica “Viajar” do portal SAPO Viagens.
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