Nesta rua de Lisboa, cabem todas as ruas do mundo onde a comida é protagonista de momentos felizes e experiências sensoriais. Nesta Rua – que é um restaurante informal e despretensioso, mas cuidado e apurado – cabem todas as culturas, religiões, raças e sabores. O mundo todo cabe nos pratos que são servidos no restaurante Rua, situado no Príncipe Real, e que têm a assinatura do chef Manuel André Fernandes. A nova carta, com sabores mais primaveris, acaba de ser lançada.
Aberto há pouco mais de um ano, o Rua tem dado nas vistas, atraindo muitos turistas oriundos de todo o mundo. E a culpa pode muito bem ser do jornal inglês The Guardian que, recentemente, o colocou na lista dos 12 melhores restaurantes novos da capital, assegurando que a cozinha nacional atravessa um bom momento e classificando-a como uma das mais interessantes da Europa.
Manuel André Fernandes tem ele próprio um caminho mediático, uma vez que foi o vencedor do programa Masterchef Portugal, em 2015. Natural de Coimbra, teve oportunidade de crescer na tranquilidade do campo em Oliveira do Hospital, onde aprendeu a cozinhar com a mãe e a avó. Apesar de ser uma paixão crescente, estava longe de a transformar numa profissão.
Formou-se em Arquitetura no Porto e ainda trabalhou durante algum tempo nesta área, até ver o anúncio do programa Masterchef na televisão. “Nessa altura, estava desempregado e resolvi arriscar”, recorda. E ainda bem que o fez. Perdeu-se um arquiteto, mas ganhou-se um chef de mão cheia. Depois de tirar o curso na prestigiada escola de cozinha Cordon Bleu, em Madrid, Espanha, voltou para Portugal para estagiar com o chef Henrique Mouro. Até que surgiu o espaço e a oportunidade de abrir o seu restaurante.
O chef juntou-se a outros dois sócios e todos estão orgulhosos com o sucesso, mas não se deixam deslumbrar. Há muito caminho a percorrer e esta Rua tem muito para dar. Por isso, estão a ser lançados novos pratos, como o labneh com pêra bêbeda (na imagem de destaque deste artigo), avelãs e za’atar (mistura de especiarias usada no Médio Oriente), o caril massaman com borrego e amendoins, a cavala com panko, puré de milho doce e escabeche de mirtilo e ananás e o choco frito com compota de malagueta, ovo a baixa temperatura e trufa.
A ideia é “não cansar os clientes e não ser repetitivo”, explica Manuel André Fernandes que prefere cartas pouco extensas, mas em constante renovação. Dado que a cozinha é pequena, torna-se mais eficiente e menos confuso. Da ementa, sobressai o caril verde, um dos pratos que conquistou o público e o júri quando foi concorrente do programa de televisão, embora a preparação e as técnicas utilizadas revelem uma maturidade muito distinta.
Tal como o conceito, “servir comida de rua de vários pontos do mundo, sem sair da mesa”, nas palavras do chef, o espaço é descontraído e com um toque de irreverência, sobretudo devido ao mural criado pelo artista Samina, que domina uma das paredes do restaurante. Há um sofá corrido junto a outra das paredes, dando a ideia de que todos os clientes se sentam à volta de uma mesma mesa. É apenas ilusão, mas as conversas e as línguas fundem-se ao ritmo da comida que vai sendo servida.
Os pratos querem-se partilhados para todos provarem diferentes sabores, usufruindo de uma experiência mais completa. E foi o que fiz também. A minha viagem começou com um prato frio: vieiras coradas com gaspacho de vegetais assados, framboesa desidratada e coentros (9€), uma deliciosa combinação de paladares que surpreende todos os sentidos. De seguida, fiquei rendida a um dos pratos vegetarianos da carta, cenouras com quinoa, frutos secos, raz el hanout (mistura de especiarias típicas do Magreb), alga nori e queijo de cabra (8€), sabores tão distintos, que se complementam e funcionam na perfeição. Um hino à boa comida e a prova de que delicioso não tem de ser complicado.
Os apreciadores de sabores mais apurados têm de experimentar o “what the duck?”, bao de pato confitado, puré de pimentos assados e cebola caramelizada (9€), ou as “angry fried chicken”, as famosas asas de frango coreanas com kimchi (9€). Sobressaem as cores e as especiarias que nos transportam para as ruas caóticas do Oriente, mas sem perdermos o equilíbrio na fusão de ingredientes. A acompanhar estes pratos inesquecíveis, há uma lista imperdível de cocktails com e sem álcool.
Para terminar, uma ode aos nossos olhos, uma espécie de jardim de framboesas com pistáchio e chocolate, uma sobremesa obrigatória que merece uma nova visita ao Rua.
O restaurante está aberto de terça a sábado à hora de jantar: de terça a quinta, entre as 18.30 horas e a meia-noite, e às sextas e sábados, entre as 19.30 horas e a 1 hora.
Créditos das imagens: Luís Sustelo e Starting Today
Este texto integra a rubrica “Saborear” do portal SAPO Viagens.
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