Estava, pela primeira vez, sozinha num país que desconhecia, numa língua que não era a dela. Sentada, a olhar para um mar paradisíaco da mesma cor que os seus olhos, agora tristes, pensava como uma série de acontecimentos inesperados a tinham levado até àquele momento.
Bebericava um chá verde e sentia a solidão envolvê-la, como uma brisa demasiado fria, que não combina com um dia solarengo de verão. Estava só e sentia-se só. Até ali, nunca estivera sozinha. Mas agora todos tinham partido, até o companheiro das duas últimas décadas. “Tenho de ir, desculpa…”, foram as derradeiras palavras dele, que se cravaram no seu coração como se fossem espinhos. Depois disso, agarrou nas malas que fizera à pressa e saiu. Sem olhar para trás.
E agora ali estava ela a digerir ainda aquelas palavras, que acompanhava apenas com uma salada. Sentia-se demasiado preenchida com o imenso vazio que aquelas palavras provocaram. Tinha de se reconstruir depois da tempestade, de juntar as peças e de aprender a viver só sem se sentir só. A milhares de quilómetros de casa, iniciou o longo caminho de regresso.
Créditos da imagem: Nathalie Aguiar
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