Achava que tinha perdido tudo, o pouco que tivera. Perdera a família num acidente de automóvel. As vidas à volta dela esfumaram-se de um segundo para o outro, desapareceram. E a pouca vida que restou dentro dela esbatia-se, à medida que o tempo ia passando. Tinha perdido tanto! Até a esperança de que um dia as coisas mudariam. Já não acreditava nos dias de sol, no sorriso das pessoas, muito menos nela própria.
Até que um dia, ao passar junto a uma loja de animais, ficou presa a uns olhos ainda mais perdidos e assustados do que os dela. Já não conseguiu seguir caminho. Ficou ali durante longos minutos a olhar para aquele cachorro tão abandonado e sozinho como ela. Tinham tanto em comum! Não hesitou em levá-lo para casa. Tratou dele, alimentou-o, deu-lhe carinho, deu-lhe vida. Sentia que cada gesto, cada momento de partilha, cada palavra eram retribuídas. Os seus dias voltaram a encher-se de alegria, como se passassem a fazer sentido. E passaram. Como se houvesse esperança naqueles olhos que só tinham olhos para ela. E havia.
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