“É tarde para mim”

É tarde para mim, dissera ela à vida. A vida encolheu os ombros, sem saber o que lhe responder. Via nos olhos dela a tristeza da desilusão, a frustração de todos os nãos que ouvira pelo caminho. E tinham sido tantos! Via o reflexo de um coração dilacerado pela dor da despedida das pessoas mais próximas. Via a tentativa de um sorriso com mágoa, um sorriso que já tinha sido rejeitado tantas vezes. O que lhe responder?
É tarde para preencher este vazio que sinto a todo o momento, é tarde para ter saudades do que não vivi, para me lembrar da história de amor que poderia ter escrito e não escrevi. É demasiado tarde…
A vida deixou que as lágrimas limpassem toda a sua amargura, como a chuva que vem quando os terrenos estão áridos e sedentos. Depois da chuva, as flores nascem e crescem, à procura de vida, de ar para respirar. A vida finalmente abriu a boca e disse-lhe: “Não te preocupes. Ainda é cedo para desistires. Acredita em mim”.