Morre lentamente

Morre lentamente quem não arrisca o certo pelo incerto, quem fica preso em casa porque lá fora está a chover. Morre lentamente quem não foge dos conselhos sensatos, das palavras corretas, do percurso traçado. Morre lentamente quem não dá tudo com receio de ficar sem nada, porque desconhece que é quando damos que recebemos, quem não ama incondicionalmente porque tem medo que doa intensamente, quem não sonha alto porque tem a coragem adormecida.
Morre lentamente quem não muda de ideias para se manter coerente, quem prefere as retas em vez das curvas com subidas e descidas vertiginosas, quem não ousa sair da linha, quem não coloca a música do carro aos berros para cantar ainda mais alto com vergonha de quem possa ver. Morre lentamente quem opta pelo previsível, pelo claro, pelo visível, pelo que está mais perto, pelo que dá menos trabalho, pelo que custa menos.
E a vida que percorre o nosso corpo aprisionada a desejos sufocados e escondidos pelo medo de sermos nós? A vida esvai-se, diminui, reduz, adormece, morre. E o tempo não está sempre do nosso lado. Não vale deixar para amanhã, vale, sim, dar um murro na mesa se preciso for e ir, mesmo sem saber para onde. A vida desperta-nos instantaneamente quando percebemos que temos de mudar, que temos de explorar, descobrir, voar.

Créditos da imagem: Helena Simão

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2 Comments

  1. Setembro 7, 2017
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    • Helena Simão
      Setembro 8, 2017
      Reply

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