Repetia tudo de novo

Mesmo que tenha errado, repetia tudo de novo. Mesmo que tenha sido efémero, foi eterno. Mesmo que tenha sido breve, foi para sempre. Mesmo que o tempo tenha voado, sei que conseguimos fixá-lo em nós, duas sombras cujos contornos se dissiparam, dois vultos cujas linhas se desvaneceram na noite.
Deste-me vida, foste a chama que eu não conseguia acender sozinha, foste a luz que me mostrou o caminho que eu julgava não ter. Deste-me muito mais do que eu te dei. Deste-me o chão que eu deixara de ver. Deste-me a coragem para voltar a olhar para dentro de mim. Não te perdi. Não se pode perder algo que nunca se teve. Não te disse adeus. É uma palavra proibida quando a esperança, que ainda me faz acelerar o coração, está sempre gravada no meu olhar. Não te virei as costas. Afastámo-nos na esquina da vida e nos degraus dos problemas.
Fui eu? Foste tu? Nenhum de nós podia prever que o barco dos dias que nos juntou acabaria por nos separar. Não tivemos força para segurar a mão um do outro e cedemos à força avassaladora do destino. Não soubemos confiar no nosso coração. Mesmo que doa, e dói como nenhuma outra ferida, prefiro a saudade ao vazio de nada sentir. Mesmo que ame neste silêncio que me atordoa, prefiro sonhar à realidade da distância. Mesmo que tenha errado, e sei que errei muito, repetia tudo de novo.

Créditos da imagem: Helena Simão

 

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