Se, de repente, lhe oferecerem Cerelac para adultos, rosbife de javali ou leitãozinho, não estranhe, pois está no The Insólito, um restaurante onde tudo pode acontecer. Da vista sobre a cidade de Lisboa, uma das mais bonitas, à decoração irreverente onde peças vintage, que nos lembram a casa dos nossos avós, combinam com objetos inusitados, como Barbies penduradas no teto. As combinações improváveis estão em todo o lado e é preciso manter os olhos bem abertos para não perder pitada. As misturas originais e surpreendentes continuam no prato. O chef António Sousa assina mais uma carta arriscada que desafia todos os nossos sentidos. O resultado é uma experiência insólita, como o nome do espaço sugere.
Mal entramos no magnífico palacete do século XIX, localizado mesmo em frente ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, no Príncipe Real, percebemos que a viagem vai ser especial. Trata-se de um espaço com história, que pertence ao grupo The Independente Collective, transformado em hotel, o The Independente Suites, e em dois restaurantes que também são bares, o The Decadente e o The Insólito. A decoração inclui elementos de diferentes décadas e estilos, primando pela elegância e pelo conforto.
Temos de subir até ao piso 3 para chegarmos ao nosso destino e vamos num dos primeiros elevadores privados da cidade.
A vista sobre Lisboa é o que primeiro nos cativa, já que a luz do final de dia ainda nos deixa vislumbrar o castelo de São Jorge e o rio Tejo. Procuramos, pois, um bom lugar no rooftop entretanto já quase preenchido, sobretudo por turistas de várias nacionalidades. Mas o espaço interior do restaurante merece ser apreciado com todo o cuidado, pois a decoração é uma conjugação de aspetos insólitos: há diversos lustres no teto do bar, há bonecas viradas ao contrário e até nemos, há imensas borboletas numa das paredes e uma espécie de cabeça de veado, a imagem de marca do espaço.
O olhar irreverente sobre o passado marca também a nova carta. Se a vista e a decoração do restaurante nos deixam impressionados, os pratos que vêm para a mesa não ficam atrás. Pelo contrário. O chef, de 29 anos, que já trabalhou no 100 Maneiras, chefiado pelo conhecido Ljubomir Stanistic, e estagiou no restaurante Noma, na Dinamarca, considerado por diversas vezes o melhor restaurante do mundo, não sente o peso da responsabilidade e apresenta pratos descontraídos, com sabores e formas de confeção muito diferentes daquilo a que estamos habituados.
A sua liberdade na criação é irreverente e deixa transparecer a alegria de misturar ingredientes que, por norma, não se juntam no prato. E, nós, espetadores de tais obras de arte, só podemos sorrir. Com todos os nossos sentidos.
Primeira pergunta: o que queremos beber? O The Insólito possui uma vasta oferta de cocktails, que incluem desde os mais clássicos, como o Cosmopolitan e o Dry Martini, aos mais originais, como o Daiquiri de pêra rocha ou o Turista Smash. Dado o meu estado de graça, optei por uma bebida sem álcool e escolhi o Virgin Holy Sipo (4,5€), com ananás, hortelã, gengibre, cardamomo, sumo de limão, xarope e água com gás. Leve como uma brisa fresca num dia de verão.
Acaba também de ser lançada uma carta de vinhos, inspirada pelos sabores do novo menu, repleta de novos e originais rótulos de produtores nacionais.
Olhamos, então, para o menu das entradas e lá está a Cerelac para adultos (7€) que, na verdade, é uma sopa de topinambur, um tubérculo originário da América do Norte. O aspeto e a consistência fazem realmente lembrar a papa para os bebés, mas o sabor diverge, como seria de esperar. Trata-se de um creme adocicado e intenso, que nos aconchega o estômago e o espírito. Para quem dispensa sopa, há rosbife de javali (12€): lombo de javali laminado com aioli caseiro, agriões e legumes crocantes, muito apreciado entre os turistas. Destaco também O Campo (6€): texturas de couve-flor em três formatos com folhas ácidas, acelgas desidratadas, passas e hortelã.
Nos pratos principais, as opções são muitas e prometem surpreender, como o Insólito Cod Fish JR (20€): lombo de bacalhau de meia cura, ovo a baixa temperatura, azeite de clorofila, endívia corada, mini nabo e ervilha torta, ou o leitãozinho (16€): barriga de leitão com puré de pimenta, cogumelo portobelo, pickle de uva e demi-glace caseiro. Optei pelo robalo, servido com folha e pó de beterraba, rolo de curgete e cogumelo shimeji, inhame frito e molho de vinho tinto. O peixe estava cozinhado na perfeição e todos os outros sabores se conjugam para enaltecer ainda mais o protagonista.
As sobremesas são assinadas pela pasteleira Inês Fraga e mantêm a tendência insólita, pois claro. O Go Nuts (8€) foi a minha escolha. Inclui bolo de pistáchio, que eu adoro, gelado de nozes, que neste caso foi substituído, e bem, por gelado de maçã verde, espuma de avelã e frutos secos caramelizados. Mas há também a Marquise com Vista (9€) e não se refere ao local onde nos encontramos. Esta traz no prato uma marquise de chocolate com nibs caramelizados, gomas de camomila, pó de azeite e calda de citrinos. É também uma sobremesa muito curiosa com ingredientes que se apresentam de forma inovadora e que, juntos, tornam este desfecho de refeição muito especial.
O restaurante The Insólito está aberto todos os dias ao jantar e organiza também menus personalizados para grupos corporativos ou familiares.
Créditos das imagens: Direitos Reservados e Starting Today
Este texto integra a rubrica “Saborear” do portal SAPO Viagens.
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