Restaurante Saraiva’s: homenagem às memórias de Lisboa

O restaurante Saraiva’s está de volta. O lugar é o mesmo de sempre, junto ao parque Eduardo VII, em Lisboa. O nome também é o mesmo, até porque o espírito bairrista se mantém. Os pratos mais icónicos, como o bife da casa e a sopa de cebola, estão lá. Mas do velhinho Saraiva’s, dos anos 70, restaram apenas um painel de cerâmica do século XIX, que decora o célebre bar, e alguns candeeiros. O novo espaço é fluido, descontraído e apresenta uma carta despretensiosa com pratos inspirados nas raízes portuguesas, assinada pelo chef Gonçalo Costa.
A cor verde, que fazia parte de algum mobiliário, serviu de inspiração à arquiteta Teresa Monteverde, que trouxe para este projeto tonalidades mais claras e misturas mais frescas. A luz exterior foi também muito bem aproveitada como se houvesse uma continuidade do exterior para o interior e estivéssemos na esplanada.

Os azulejos e alguns pratos nas paredes tornam este espaço bem característico enquanto a restante decoração lhe dá um ar contemporâneo, desempoeirado e citadino.
Alguns apontamentos tropicais, como o papel de parede da sala interior, que antigamente era privada, são influência dos cinco anos que o chef viveu no Brasil. Nessa sala, há agora uma única mesa compartilhada. Ao jantar, haverá menus de degustação específicos para este espaço.

O restaurante, que deve o nome ao apelido de um dos antigos sócios, encontrava-se encerrado há algum tempo. Suzana Barros de Brito, a proprietária do restaurante Tágide, situado no Chiado, descobriu-o e viu-lhe potencial. Gonçalo Costa, que assina a carta deste restaurante clássico da capital, bem como do Wine & Tapas Bar, dos mesmos proprietários, aceitou o desafio e foi para a cozinha – o lugar onde é verdadeiramente feliz – criar receitas, algumas inspiradas nas tradicionais da casa.
Natural de Santarém e com uma forte influência francesa, fruto da sua formação, o chef soube aliar o melhor dos ingredientes da nossa terra a uma confeção metódica e original, acrescentando inspirações de viagens e da experiência que foi acumulando e vivenciando. No Tágide, Gonçalo Costa revela o seu lado mais poético, criando pratos que vão buscar sabores da época dos Descobrimentos. No Saraiva’s, o chef mostra o seu lado mais familiar e informal, indo buscar às suas raízes e às dos lisboetas sabores que nos aconchegam o corpo e o espírito.
Para Gonçalo Costa, o segredo está na “qualidade, na frescura e sazonalidade dos produtos”. “Limito-me a respeitar e realçar cada ingrediente”, refere, mas, na verdade, faz muito mais do que isso. Devolve-nos as memórias de infância, de sabores que já tínhamos esquecido e que nos fazem sorrir e, principalmente, criar novas memórias, boas memórias. Partindo da variedade do que a terra e o mar nos dão, há pratos que vão sendo alterados de acordo com as estações, pelo que o chef e a sua equipa têm a difícil tarefa de criar quatro cartas por ano.
Uma coisa é certa: há pratos que vão estar disponíveis todo o ano, como o bife da casa, uma recriação da receita original, a partir de muitas opiniões e comentários que o responsável foi recolhendo. A sopa de cebola é outro clássico obrigatório. E sublinho a palavra obrigatório. Não que conhecesse a versão original. Mas tive a sorte de conhecer a versão com a assinatura de Gonçalo Costa e foi uma experiência divinal. Muitas vezes, é na simplicidade que está o extraordinário. E é o caso.


Mal nos sentamos, é-nos apresentado o couvert da casa: pasta de alho francês, flat bread e focaccia de banana. Imediatamente percebemos que, neste restaurante, a comida é levada muito a sério e que vamos ser surpreendidos a todo o instante. Para petiscar, a carta sugere alguns pratos que se podem comer “À mão” e servem para partilhar. É o caso dos croquetes de cozido com mostarda e mel (4,8€). O difícil será comer apenas um. Os melhores sabores de um cozido à portuguesa foram apurados e aperfeiçoados e cabem todos num croquete. Parece exagero, mas não é.
Há ainda taco de tártaro de salmão com ovas e mão de buda (5,5€) e tortilha de cachaço de porco preto com maionese de hoisin (4,9€). Ainda nas entradas, além da sopa de cebola (3,5€), há camarão salteado com kale (couve) crocante, abacaxi e coco (6,8€), um prato que é uma autêntica viagem ao outro lado do Atlântico. Mas também há salada de quinoa, abacate, tomate e mozarela (5,5€), para quem prefere opções vegetarianas. E há, entre outras maravilhas, ovos rotos, que recomendo.

Nos pratos principais, além do bife à Saraiva’s (17€), encontramos peito de frango orgânico, pistacho e arroz de beterraba (12€), notando-se um cuidado com as sugestões mais saudáveis e variadas. Nos sabores do mar, destaco as lulas recheadas (12€) com, imagine-se, sopa da pedra, uma ode aos melhores sabores das terras de Almeirim. Tudo isto acompanha com uma cuidada carta de vinhos, cervejas artesanais ou cocktails.
Para quem não resiste a uma “Gulodice”, a sugestão é o crepe Suzete, aqui recriado com licor Grand Marnier e laranja do Algarve, uma experiência para cativar todos os sentidos.
Viajamos no tempo e no espaço neste novo restaurante, que representa uma homenagem ao que Lisboa já foi, mas, sobretudo, ao que a capital e as suas gentes podem vir a ser. Para breve, estão previstas algumas iniciativas, como o jantar de azeites, que decorrerá ainda este ano.
O restaurante está aberto todos os dias para almoços e jantares, até às 24 horas. Encerra ao domingo.

Créditos das imagens: Direitos Reservados e Helena Simão
Este texto integra a rubrica “Saborear” do portal SAPO Viagens.

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7 Comments

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